quarta-feira, 2 de julho de 2008

Amor Eclipsado

Olho em volta…
Nada mexe, nada vive… nem mesmo eu…
Fecho os olhos e escuto o silêncio perturbador…
É tanto que abafa até os meus pensamentos…
Os meus desejos… a antiga ânsia de viver…
Essa percorre-me a pele e deixa-se ir
Para longe, onde não a posso alcançar…
É uma solidão tão grande dentro de mim…
Tenho a mente prisioneira e não sei libertá-la…
Sinto os membros acorrentados…
Cada bater do coração dói como um punhal
Que se espeta e volta a espetar-se…
Sei que novamente que me cobre a luz
De um sol eclipsado teimando em não se deixar ver…

Sinto frio…
Faz-me falta aquele abraço que não vem…
Voltam as saudades daquela voz que não ouço…
A solidão persegue-me o espírito, aniquilando-o…
Volto a ser tudo para nada e nada para tudo…
Solto um suspiro gelado e posso vê-lo,
Lentamente, desaparecer, levando-me com ele
Para esse lugar que nenhum ser vivo quer conhecer…
Salto para fora do meu corpo e observo-me,
Quedada em silêncio, a um canto, imóvel…
Beijo a minha face, com festas de ternura…
Regresso a mim e encho-me de coragem…
Abro a boca e sai-me, como se fosse alma,
Um forte e sentido… «Amo-te»…

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Esta folha de papel, ainda em branco...

Esta folha de papel, ainda em banco, é um mar de esperanças e sonhos de tudo o que me vem na alma. É um segredo escondido que guarda uma mensagem que se torna legível quando, cuidadosamente pego no lápis e o passo sobre ela, desvendando o que esconde... o que eu escondo... bem no fundo da alma.

Esta folha de papel, ainda em branco, é um vazio cheio de palavras belas, palavras tristes, palavras minhas... palavras suas.

Porque o que é meu é seu, assim que sinto o seu toque e espalho lágrimas que não caíram, sorrisos que não viram ainda a luz do sol, tão grande, tão poderoso, que, mesmo que as nuvens o tapem, prevalece, aquecendo-me a alma.

Esta folha de papel, ainda em branco, é uma vida que anseia sair e mostrar a sua beleza, como um feto anseia vir ao mundo e cumprir o seu destino. Eu sou a mãe que quer vê-lo belo, forte, pronto para permanecer infinitamente, mesmo depois de mim.

Porque as palavras escritas não voltam a esconder-se, nem quem as escreveu pode esquecer-se de que o fez.

Esta folha de papel, ainda em branco, era nada... Esta folha de papel, já escrita, é tudo... E tudo continuará a ser... tanto quanto eu sou tudo o que nela há e nada sou do que ficou por dizer...

Porque eu sou o que escrevo mais do que o que deixo por escrever. Porque a palavra que se escreve tem mais valor do que a frase dita... porque há provas disso. E mesmo que a prova física se vá, nada pode apagar a que fica guardada no nosso peito.

Esta folha de papel, ainda em branco, era como eu:
... à espera do que será escrito em mim...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Palavras da Alma

Tenho a mente repleta de palavras…
Palavras vivas, palavras mortas,
Palavras sentidas ou por explicar...
Sentimentos visíveis...
Palpitares de coração desconhecidos...
Letras escritas... aquelas letras
Que se provam em papel...
Que se deixam para sempre provadas
Dentro do coração de quem as escreve...
Letras... palavras... sentimentos...
Não sei o que posso dizer
Ou o que devo sentir...
Hoje, aqui e agora... apenas vejo,
Sendo humildemente cega,
Palavras ocas... mas tão cheias
Nem sei de quê...
Voarem e espalharem pelo meu corpo
O ardor de um verbo que insiste em ficar
Instalado para sempre nas minhas entranhas...
A vida veio... e já foi...
Não a vi passar... nem a vi partir...
Apenas a senti chegar
E, quase logo, se ausentar
De um corpo jovem, inexperiente,
Deixando apenas para trás
Aquela velha, pobre, triste alma
Que teima em chamar-se pelo meu nome
E me faz sentir-me perdida dentro de mim mesma.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Perdoa-me...

Não devia, mas...
Supera a dor... supera o ódio...
Supera todo o respeito que lhe devo!

Caiem lágrimas de fogo
Dos meus olhos de eterno castanho puro,
Voam palavras injustas
Dos meus lábios de infinito rosa inocente,
Fulminam os pensamentos bons
Os que no fundo da alma sentem injustiça.
Ciúme, palavra feia...
Palavra que, há muito, bani minha vida...
Que regressa em força ao meu corpo sensível
À sua chegada negra, ardente, egoísta!
Levou as palavras doces,
Capturou os sorrisos sinceros,
Deixou o sangue febril,
Entregou-me a responsabilidade
De ser quem eu deveria ser...
Mas não sou mais quem devia ser...
Sou simplesmente um corpo
De que o ciúme se apoderou...

Não podia, mas...
Supera a liberdade... supera os meus sorrisos...
Supera... ah, se supera! o amor que lhe tenho!